quinta-feira, 10 de março de 2011

A importância da leitura






A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo - embora, muitas vezes, não nos demos conta.
A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. Segundo Angela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo.
Quando citamos a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a compreensão da leitura, podemos inferir o caráter subjetivo que essa atividade assume. Conforme afirma Leonardo Boff, cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor.
A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto. Já dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos etc. É por isso que consegue ser tocado pela leitura.
Dessa forma, o único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso ela se revela como uma atividade extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela, além de adquimirmos mais conhecimentos e cultura - o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de trabalho exigente -, experimentamos novas experiências, ao conhecermos mais do mundo em que vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela nos leva à reflexão.
E refletir, sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas de sua percepção. Quando movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu horizonte de expectativas.
Desse modo, a leitura se configura como um poderoso e essencial instrumento libertário para a sobrevivência do homem.
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte:
01. Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto;
02. Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente;
03. Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos umas três vezes;
04. Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas;
05. Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
06. Não permitir que prevaleçam suas idéias sobre as do autor;
07. Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão;
08. Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente;
09. Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão;
10. Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de ...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu;
11. Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mais exata ou a mais completa;
12. Quando o autor apenas sugerir idéia, procurar um fundamento de lógica objetiva;
13. Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais;
14. Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto;
15. Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denuncia a resposta;
16. Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo autor, definindo o tema e a mensagem;
17. O autor defende idéias e você deve percebê-las;
18. Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantíssimos na interpretação do texto.
Ex.: Ele morreu de fome.
de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na realização do fato (= morte de "ele").
Ex.: Ele morreu faminto.
faminto:
predicativo do sujeito, é o estado em que "ele" se encontrava quando morreu.;
19. As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as idéias estão coordenadas entre si;
20. Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o significado.

A arte de ler... e reler

Ler, pensar e escrever 
Reler é verbo insistente, que não tem medo de bicho papão nem de repetição.
O próprio verbo reler é um duplo ler, pois se eu leio reler de trás para a frente ele fica exatamente igual: é reler pra cá... reler pra lá...
A releitura é ler de novo o que já é velho, encontrando novidades que só podem estar ocultas no que todo mundo viu, mas não percebeu.
Faltou releitura.
Releitura é deixar de ser "analfabeto para as entrelinhas" (Guimarães Rosa) e captar o que estava lá, mas a pura leitura não soube fisgar, peixe fugidio, lebre arisca, raio de sol.
Releitura cura superficialidade.
Releitura faz bem aos olhos.
Releitura de manhã ajuda a pensar.
Releitura à noite protege contra pesadelos.
A releitura é como a água, tanto bate até que fura... nosso medo de entender.
Leia de novo: re-lei-tu-ra. De novo: re-lei-tu-ra.
De que vale ao homem ter muitos livros se não tiver tempo para reler? Reler devagar, reler palavra a palavra, letra a letra, degustando cada milímetro de cada significado?
Reler não é chupar uma laranja de novo. O milagre da releitura é que sempre há mais suco na segunda vez. E mais suco ainda na terceira.
Reler é a arte de voltar ao mesmo lugar como se fosse pela única vez.
Reler é remar no mesmo mar como se fosse pela primeira vez.
Reler o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou. Será? Mas se era pouco não era amor.
Reler é reatar a infância.
Reler é entrar de novo na ciranda, ciranda cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar, vamos nesta rua, nesta rua, e nesta rua tem um bosque que se chama, que se chama solidão, dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração.
Reler é reatar passado-presente-futuro.
Samba Lelê tá doente, tá com a cabeça quebrada. Samba Lelê precisava... é de umas boas lambadas. Fui no Itororó beber água, não achei, mas achei bela morena que no Itororó deixei, aproveita, minha gente, que uma noite, que uma vida não é nada... e se não dormir agora... dormirá de madrugada.
Ah, como é bom reler e reouvir essas velhas canções, que nos fazem ficar um pouco mais novos.
Sobre o autor:
Gabriel Perissé é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência), "O leitor criativo" (Omega Editora), "O professor do futuro" (Thex Editora) e "Palavras e origens", Ed. Mandruvá.

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